Para Mergulhadores Profissionais da Indústria Naval e de Óleo & Gás
Princípio básico
O médico indicado pela empresa atende, antes de tudo, aos interesses da empresa.
O mergulhador precisa ter seu próprio acompanhamento médico independente.
1. POR QUE NÃO CONFIAR EXCLUSIVAMENTE NO MÉDICO HIPERBÁRICO DA EMPRESA?
1.1 Conflito estrutural de interesses
O médico indicado pela empresa:
É remunerado direta ou indiretamente pela contratante
Atua sob pressão operacional (prazo, custo, produtividade)
Tem papel central em liberar ou não o mergulhador para trabalhar
Pode ser chamado a respaldar decisões empresariais em caso de acidente
➡️ Na prática, ele não é independente.
1.2 Subnotificação de doenças do mergulho
É comum que:
Sintomas leves de DCS (doença descompressiva) sejam minimizados
Queixas neurológicas sejam classificadas como “inespecíficas”
Problemas osteoarticulares sejam tratados como “desgaste natural”
Alterações pulmonares sejam ignoradas se não impedirem o trabalho imediato
➡️ Isso protege a empresa, mas expõe o mergulhador a sequelas permanentes.
1.3 Pressão pela liberação ao trabalho
Em muitas operações:
O médico sofre pressão para não afastar mergulhadores
Afastamentos geram atrasos contratuais e multas
O mergulhador sente medo de ser rotulado como “problemático”
➡️ O resultado é o retorno ao mergulho antes da recuperação adequada.
1.4 Histórico de litígios trabalhistas
Em processos judiciais no Brasil:
Laudos de médicos da empresa são frequentemente contestados
Exames independentes revelam lesões omitidas
Empresas utilizam parecer médico interno como defesa jurídica
➡️ Sem exames particulares, o mergulhador fica sem prova técnica.
2. POR QUE MANTER ACOMPANHAMENTO MÉDICO PARTICULAR?
2.1 Independência técnica
O médico particular:
Responde exclusivamente ao paciente
Não sofre pressão operacional
Pode adotar postura conservadora e preventiva
Atua pensando na carreira de longo prazo, não no contrato atual
2.2 Detecção precoce de danos silenciosos
Muitas lesões do mergulho são:
Progressivas
Assintomáticas no início
Irreversíveis se não tratadas cedo
Exemplos:
Lesões e desgaste das grandes articulações
Alterações pulmonares crônicas
➡️ Check-ups regulares evitam que o dano só seja descoberto quando já é incapacitante.
2.3 Proteção jurídica futura
Em caso de:
Acidente grave
Doença ocupacional
Aposentadoria por invalidez
Ação trabalhista ou previdenciária
➡️ Exames particulares anteriores ao acidente são provas decisivas.
3. QUE TIPO DE ACOMPANHAMENTO PARTICULAR É RECOMENDADO?
3.1 Médico hiperbárico independente
Preferencialmente:
Sem vínculo com empresas de mergulho
Sem contratos com operadoras offshore
Com histórico clínico documentado
3.2 Especialidades complementares
Idealmente, o mergulhador deve manter:
Clínico geral ou médico do trabalho independente
3.3 Exames que não devem ser negligenciados
Ressonância magnética (especialmente articulações)
Avaliação neurológica periódica
Testes cognitivos (em mergulhadores de saturação)
4. COMO CONCILIAR MÉDICO DA EMPRESA E MÉDICO PARTICULAR
Regra de ouro:
Nunca confronte diretamente o médico da empresa com laudos particulares durante a operação.
Boas práticas:
Guarde exames particulares em arquivo pessoal
Faça check-ups fora do período de contrato
Busque segunda opinião após qualquer incidente
Nunca entregue exames particulares à empresa sem orientação jurídica
5. SINAIS DE ALERTA (PROCURE MÉDICO PARTICULAR IMEDIATAMENTE)
Dor articular persistente após mergulho
Formigamento, dormência ou fraqueza
Alterações de memória ou concentração
Cansaço extremo fora do padrão
➡️ Não normalize sintomas do mergulho.
6. CULTURA PROFISSIONAL: QUEBRANDO O SILÊNCIO
A indústria historicamente:
Normaliza o adoecimento
Glorifica a resistência física
Penaliza quem relata sintomas
Mas a realidade é simples:
O mergulhador descartado não é o que adoece — é o que fica inválido.
CONCLUSÃO
Manter acompanhamento médico particular não é: ❌ Falta de confiança
❌ Indisciplina
❌ Fraqueza
É: ✅ Profissionalismo
✅ Gestão de risco
✅ Proteção da própria vida
✅ Defesa da carreira e da família

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