🛫 “Longas jornadas até o mar: a rotina e os riscos dos mergulhadores offshore brasileiros”
Por décadas, a exploração de petróleo e gás em alto-mar tem sido uma das atividades mais complexas e exigentes do setor de energia no Brasil. Entre os diversos profissionais que tornam essa operação possível, os mergulhadores offshore desempenham um papel fundamental — executando inspeções, manutenção submarina, instalação e reparos em estruturas submersas. Mas antes mesmo de chegar às plataformas, esses trabalhadores enfrentam desafios logísticos, custos e riscos importantes que nem sempre entram nas pautas principais da imprensa.
🧭 Uma jornada que começa em terra
Para muitos mergulhadores que atuam em campos como a Bacia de Campos ou a Bacia de Santos, a jornada começa muito antes do embarque propriamente dito:
Deslocamento terrestre: Muitos profissionais saem de suas cidades ou estados de origem por conta própria, usando transporte rodoviário até chegar às cidades-base de embarque, como Macaé (RJ), Farol de São Tomé (RJ) ou Vitória (ES).
Pernoites fora de casa: Em muitos casos, os trabalhadores precisam passar noite(s) em pousadas ou hotéis, aguardando o próximo voo para a etapa final do embarque.
Voos até as plataformas: A etapa final é um voo em helicópteros operados por empresas contratadas para transportar equipes até as unidades offshore — geralmente uma viagem que pode durar mais de uma hora, dependendo da distância.
Este deslocamento vertical — de casa até a rodoviária, de lá até a base aérea e, por fim, até o heliponto offshore — faz parte da rotina de quem trabalha em regime de turno (por exemplo: 14 dias embarcado por 14 dias em terra). �
💰 Quem paga a conta? A disputa pelos custos de deslocamento
Um dos pontos mais controversos entre mergulhadores e outras categorias offshore tem sido quem arca com os custos dessa logística onerosa.
Algumas empresas custeiam apenas o trecho entre a rodoviária e a cidade de embarque no aeroporto, deixando aos trabalhadores a responsabilidade de custear parte do transportes e alimentação.
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Trabalhadores e representantes sindicais argumentam que isso é incoerente com as obrigações trabalhistas, uma vez que o deslocamento até o local de embarque faz parte da jornada de trabalho ou deveria ser remunerado adequadamente.
Especialistas em direito trabalhista costumam lembrar que despesas essenciais para realizar a atividade profissional, se impostas unilateralmente pelo empregador ou pela contratante, podem configurar ônus ilegítimos ao trabalhador, o que deveria ser revisto em acordos coletivos ou via fiscalização do Ministério do Trabalho.
Para garantir seus direitos, os trabalhadores offshore — incluindo os mergulhadores — devem, antes de tudo, formalizar todas as etapas do deslocamento como parte integrante da atividade laboral, guardando comprovantes de passagens, hospedagens, traslados e comunicações da empresa que determinem datas, horários e locais de embarque. É fundamental conhecer e exigir o cumprimento do contrato de trabalho, do acordo ou convenção coletiva da categoria, verificando se há previsão expressa de custeio integral do deslocamento até a base de embarque e de cobertura de despesas acessórias. Diante de irregularidades, o caminho recomendado é registrar a situação por escrito junto ao RH ou à empresa contratante, buscar apoio do sindicato da categoria, e, se necessário, acionar órgãos de fiscalização como o Ministério do Trabalho e Emprego e o Ministério Público do Trabalho, que podem instaurar procedimentos de mediação ou investigação. A organização coletiva, o registro documental e a recusa em assumir custos que não são do trabalhador — sempre de forma orientada e respaldada juridicamente — são instrumentos essenciais para assegurar direitos, reduzir abusos e melhorar as condições de trabalho no setor offshore.
🚁 O transporte por helicóptero: riscos reconhecidos globalmente
Além dos custos, o transporte aéreo é um dos momentos mais críticos da rotina offshore. Helicópteros são a principal forma de transporte de pessoal entre terra e plataformas, mas essa etapa carrega riscos que vêm sendo estudados internacionalmente:
Acidentes em fases críticas: Estudos indicam que fases como aproximação e pouso nas plataformas têm taxas de incidentes significativamente maiores, especialmente à noite, por falta de infraestrutura adequada e desafios de visibilidade. �
Riscos inerentes ao voo offshore: Vôos sobre o mar enfrentam ventos fortes, condições meteorológicas adversas e sistemas de segurança mais limitados do que em voos convencionais. �
Comparação com aviação comercial: O setor de transporte offshore historicamente tem uma taxa de acidentes bem maior do que o transporte aéreo comercial regular, ainda que os contextos operacionais sejam diferentes. �
Histórias de incidentes com helicópteros que apoiam operações petrolíferas — algumas chegando a ser sobrevividas por todos os ocupantes — reforçam a percepção de que, embora raro, o risco é real e grave.
⚓ Riscos além do deslocamento: acidentes em plataformas e mergulhos
Quando finalmente embarcados, os mergulhadores enfrentam também os riscos inerentes à atividade:
Acidentes de trabalho: Ao longo dos últimos anos, registros de acidentes com mergulhadores em plataformas — ainda que não sejam divulgados de forma ampla — mostram que os perigos continuam presentes na operação submarina. �
Complexidade do ambiente offshore: A exploração de petróleo em lâminas d’água profundas envolve múltiplos fatores de risco, desde explosões em plataformas a falhas de equipamento — o que exige protocolos rigorosos de segurança. �
📢 O debate sobre condições de trabalho e manutenção de segurança
Trabalhadores offshore, sindicatos e especialistas enfatizam que muitos desses desafios — de transporte e operação — não podem ser dissociados de condições mais amplas de produção e gestão de ativos. Cortes de investimentos, terceirização e falta de manutenção adequada são citados por representantes de categorias como fatores que podem aumentar o risco de incidentes. �
FUP
🧭 Conclusão
Os mergulhadores offshore enfrentam uma jornada que começa muito longe das plataformas: um percurso que envolve deslocamento terrestre, logística complexa e voos em condições que nem sempre são ideais.
Além dos custos financeiros debatidos entre trabalhadores e empregadores, a realidade é que a segurança nesse transporte é um ponto crítico, com riscos reais que demandam atenção contínua por parte das empresas operadoras, órgãos reguladores e entidades trabalhistas.
Reportagens e fiscalizações que deem visibilidade a esses desafios — sobretudo na cobertura das condições de deslocamento, transporte e segurança — são essenciais para que se encontrem soluções reais e justas para os profissionais que tornam possível a exploração em alto-mar.

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