A limpeza dos capacetes Kirby Morgan no mergulho comercial brasileiro: o que dizem os manuais e o que acontece na prática
No mergulho comercial brasileiro, especialmente na indústria naval e de óleo e gás, os capacetes Kirby Morgan são equipamentos compartilhados entre mergulhadores em uma mesma frente de trabalho. Em teoria, os manuais do fabricante e as boas práticas internacionais são claros: capacetes compartilhados exigem limpeza e sanitização adequada entre um mergulho e outro.
Na prática, porém, o cenário encontrado em muitas operações está longe do ideal.
🚢 A realidade no campo: apenas detergente, quase nunca sanitização
Em grande parte das frentes de mergulho no Brasil, o material enviado pelas empresas para a higienização dos capacetes se resume a detergente comum (geralmente neutro) e água doce.
Produtos sanitizantes apropriados — aqueles capazes de eliminar bactérias, fungos e vírus — raramente fazem parte do kit operacional.
O resultado é um procedimento que, na melhor das hipóteses, remove sujeira visível, sal e óleo, mas não promove desinfecção real. Em operações com troca rápida de mergulhadores, pressão por produtividade e janelas curtas de trabalho, a limpeza acaba sendo:
superficial;
feita às pressas entre um mergulho e outro;
limitada às partes externas ou mais visíveis do capacete.
Encontrar uma frente de mergulho que execute rigorosamente a limpeza recomendada pelos manuais da Kirby Morgan ainda é exceção — não regra.
🧴 O que deveria ser usado (e quase nunca é)
De acordo com boas práticas internacionais e recomendações técnicas, a limpeza correta de capacetes compartilhados envolve duas etapas distintas:
Limpeza mecânica
Detergente neutro e água doce para remoção de sal, sujeira e resíduos orgânicos.
Sanitização (desinfecção)
Uso de soluções germicidas apropriadas para equipamentos respiratórios, capazes de eliminar microrganismos patogênicos.
Tempo mínimo de contato da solução com as superfícies internas do capacete (máscara, oral-nasal, regulador e dutos respiratórios).
Na realidade brasileira, essa segunda etapa simplesmente não acontece na maioria das operações, seja por falta de fornecimento de produtos, desconhecimento técnico ou negligência operacional.
⚠️ Os riscos reais de não limpar corretamente
🦠 Risco biológico direto
Capacetes de mergulho entram em contato direto com:
respiração;
saliva;
suor;
secreções faciais.
Sem sanitização adequada, o equipamento pode se tornar um vetor de transmissão de:
bactérias;
fungos;
vírus;
infecções cutâneas e respiratórias.
Em um ambiente já hostil como o mergulho profissional, isso representa um risco adicional desnecessário ao mergulhador.
🫁 Risco respiratório
Resíduos de detergente mal enxaguados ou contaminantes acumulados no sistema respiratório do capacete podem causar:
irritação das vias aéreas;
tosse;
sensação de falta de ar;
desconforto durante o mergulho.
Em profundidade, qualquer alteração na respiração afeta diretamente o desempenho, a concentração e a segurança do mergulhador.
🛠️ Danos ao equipamento
O uso repetitivo e inadequado apenas de detergentes, sem controle de concentração e sem inspeção técnica, contribui para:
degradação prematura de borrachas e silicones;
ressecamento de vedações;
aumento do risco de vazamentos e falhas de vedação.
Ou seja: além de colocar o mergulhador em risco, a prática incorreta encurta a vida útil de um equipamento extremamente caro.
🧱 Cultura operacional: o problema vai além do produto
O problema não está apenas na falta de produtos adequados, mas em uma cultura operacional deficiente.
Em muitas frentes de mergulho, a limpeza do capacete é vista como:
uma tarefa secundária;
“responsabilidade do mergulhador”;
algo que pode ser “resolvido depois”.
Quando, na realidade, trata-se de um procedimento crítico de segurança, tão importante quanto a checagem de válvulas, mangueiras e sistemas de suprimento de gás.
📌 Conclusão: um risco silencioso sob o capacete
No mergulho comercial brasileiro, a prática de enviar apenas detergente para a limpeza de capacetes Kirby Morgan compartilhados revela uma distância preocupante entre o que os manuais recomendam e o que acontece no campo.
A ausência de sanitização adequada:
expõe mergulhadores a riscos biológicos reais;
compromete o conforto e a segurança respiratória;
acelera o desgaste do equipamento;
reforça um modelo operacional onde a prevenção é sempre deixada em segundo plano.
Enquanto a limpeza correta continuar sendo tratada como detalhe — e não como procedimento de segurança — o capacete, que deveria ser a maior proteção do mergulhador, pode se tornar mais um risco invisível nas profundezas.

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